O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente do Equador, Daniel Noboa, no Palácio do Planalto 18 de agosto de 2025 | 14:45
Lula encontra presidente do Equador, critica big techs e fala em autonomia para diversificar parceiros
Ao receber no Palácio do Planalto o seu homólogo do Equador, Daniel Noboa, da centro-direita, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (18) que as diferenças políticas não devem se sobrepor ao objetivo de construir uma América Latina forte.
Em suas declarações, Lula também voltou a criticar as big techs e a defender autonomia das instituições.
Noboa, por sua vez, reforçou o posicionamento do brasileiro de alinhamento entre os dois países latinos. Ele afirmou que a discussão ideológica é uma “página virada”.
“Expus ao presidente Noboa a urgência com que o governo e a sociedade brasileira vêm procurando enfrentar a criminalidade na esfera digital. Nossas sociedades estarão sob constante ameaça sem a regulação das big techs. Esse é o grande desafio contemporâneo de todos os Estados. As redes digitais não devem ser terra sem lei, em que é possível atentar impune contra a democracia, incitar o ódio e a violência”, afirmou Lula
Noboa, 37, assumiu a Presidência do Equador em novembro de 2023 com um mandato-tampão. Neste ano, ele foi reeleito no segundo turno após uma jornada acirrada, com 55,83% dos votos, ante 44,17% da oposição.
“Em um cenário global desafiador, em que a rivalidade se agrava e instituições multilaterais são ameaçadas, é preciso firmeza na defesa da nossa independência. Para o Brasil, autonomia é sinônimo de diversificação de parcerias”, disse Lula. “Essa visita do presidente simboliza o relançamento da nossa relação bilateral”.
Desde que chegou ao poder, Noboa coleciona críticas de especialistas e membros da sociedade civil que o acusam de solapar regras da democracia. Integrantes da oposição equatoriana acusam sua reeleição de ter sido fraudada.
Noboa também se recusou a se licenciar da Presidência durante sua campanha vitoriosa à reeleição, no começo do ano, e é acusado de violações de direitos humanos cometidas com sua estratégia de militarizar a segurança pública.
No início do mês, o presidente equatoriano divulgou perguntas que pretende fazer em uma consulta popular no final deste ano sobre instalar bases militares no Equador e promover impeachment de juízes da corte equivalente ao STF (Supremo Tribunal Federal), com quem Noboa trava embates.
Esta foi a a segunda consulta pública organizada pelo líder desde que assumiu o poder, realizada em um período de onda de violência no país, observada nos últimos anos.
Como é costume nas recepções de chefes de Estado, Lula realizou uma reunião a portas fechadas com o presidente do país vizinho, seguido de assinatura de atos e almoço no Palácio do Itamaraty.
Entre os temas a serem tratados pelos dois líderes, estão comércio e investimentos, num momento em que o Brasil busca ampliar seu mercado internacional após o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os dois também devem tratar do combate ao crime organizado, problema social que assola os dois países, além de desenvolvimento social, ciência e tecnologia, integração sul-americana e cooperação amazônica, meio ambiente e mudança do clima, com a aproximação da COP30 (conferência climática da ONU a ser realizada em novembro, no Brasil).
Em 2024, a corrente de comércio entre Brasil e Equador somou US$ 1,1 bilhão, com exportações brasileiras da ordem de US$ 970 milhões. Os principais itens exportados do Brasil para o Equador são veículos, máquinas, medicamentos e produtos das indústrias de papel e celulose.
Após a vitória de Noboa em 2023, Lula parabenizou o líder do país vizinho, e reforçou que pretendia manter a boa relação entre as duas nações. “Expresso minha disposição de seguir trabalhando pelo bem-estar dos nossos povos, tradicionalmente amigos, de aprofundar as relações bilaterais e de atuar pelo desenvolvimento da América do Sul”, dizia a nota do governo brasileiro.
O encontro entre os dois ocorre um dia após a esquerda também ser derrotada na Bolívia, ao ficar de fora do segundo turno da disputa presidencial. Foi a primeira vez em 20 anos que o MAS (Movimento ao Socialismo), partido que teve no ex-presidente Evo Morales sua figura mais emblemática, fica de fora da disputa na Bolívia.