Agosto Dourado relembra a importância do aleitamento materno
Agosto é o mês dedicado à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. A campanha Agosto Dourado reforça a necessidade de apoio à amamentação como ato de amor, saúde e sobrevivência.
Muitas mães ainda acreditam que amamentar é algo instintivo e automático, no entanto, por trás do gesto natural de alimentar, existe um processo que exige paciência, suporte e, sobretudo, informação.
“As pessoas acham que é só pegar o bebê e colocar no peito, mas não é assim. Existe um aprendizado mútuo: tanto a mulher quanto o bebê estão aprendendo”, explica a enfermeira neonatal Flávia Carolina, que também é consultora em amamentação.
Segundo ela, dificuldades como dor na amamentação, pega incorreta e medo de sufocamento do bebê não devem ser normalizadas.
Amamentar pode ser desafiador, mas não deve ser um sofrimento. Quando dói, é sinal de que algo está errado.
Flávia Carolina, enfermeira neonatal

Flávia é enfermeira há 19 anos e também atua com consultoria de amamentação
Um dos principais medos é o de se deparar com engasgos com o leite materno, algo que é muito comum nos primeiros dias de vida, quando o bebê ainda está aprendendo a respirar, sugar e deglutir da forma correta.
Flávia destaca que o bebê não sufoca no peito quando está bem posicionado e com a pega correta, que é quando ele abocanha o mamilo e toda a auréola. “Ele respira. Se por algum motivo houver um engasgo, ele sabe se defender. Apesar de frágil, o bebê é forte e tem instinto de sobrevivência.”
É angustiante para os pais imaginar que o bebê possa estar engasgado, mas é preciso calma e atenção para garantir a segurança da criança. Por exemplo, tossir não é sinal de engasgo perigoso, e sim um sinal de que o bebê está desengasgando.
No entanto, se o bebê não chora, faz esforço para respirar e fica com coloração arroxeada, é preciso agir rápido. A consultora lembra que a manobra de Heimlich, muito conhecida, não deve ser a primeira opção em casos de engasgo com líquidos, como o leite materno.
Ela é indicada principalmente para corpos estranhos sólidos. Para leite, temos outras abordagens mais adequadas e menos agressivas.
Flávia Carolina, enfermeira neonatal
É importante que todos os conviventes do bebê saibam como realizar as manobras de desengasgo. Em casos de emergência em que houver mais de uma pessoa com a criança, enquanto uma delas realiza as manobras, outra deve imediatamente entrar em contato com os serviços de socorro, SAMU (192) ou Corpo de Bombeiros (193).
O que fazer em caso de engasgo? Conheça a manobra
1º PASSO: Enrole o seu dedo indicador em um pano de boca e forme uma espécie de gancho, coloque-o na boca do bebê e tente puxar o que está obstruindo. Faça isso por duas vezes.

Primeiro passo, mais simples e menos invasivo.
2º PASSO: Se o bebê não chorar, ele ainda está engasgado. Posicione-o de frente para você, segurando a cabeça. Com a mão dominante, feche o punho e pressione a parte inferior dele (região do dorso da mão) contra o meio das costas do bebê, fazendo 5 movimentos rápidos e firmes de baixo para cima.

Feche o punho e faça movimentos rápidos de sobe e desce contra o tórax do bebê
3º PASSO: Se o bebê não chorar, ele ainda está engasgado, e aí sim deve ser iniciada a manobra de Heimlich. Segure-o com o corpo inclinado para baixo, apoiado sobre seu antebraço não dominante.
A cabeça deve estar mais baixa que o tronco e sustentada pela sua mão, que estará segurando no queixo do bebê, em uma espécie de V, mantendo a boca dele aberta. Apoie seu braço sobre a coxa e, com a base da palma da outra mão, dê 5 tapas firmes no meio das costas do bebê.

Se não funcionou até aqui, é hora de iniciar a manobra de Heimlich
4º PASSO: Se o bebê não chorar, ele ainda está engasgado. Com cuidado, vire-o bebê de barriga para cima, mantendo o apoio da cabeça e pescoço. Use o outro antebraço e apoie novamente sobre a coxa.
Com dois dedos (indicador e médio), pressione o tórax do bebê, bem no centro do peito, logo abaixo da linha dos mamilos. Faça 5 compressões rápidas e firmes.

Se não funcionou, inicie a compressão entre os mamilos
Continue alternando 5 tapas nas costas e 5 compressões torácicas até que o bebê elimine o objeto/leite ou volte a respirar normalmente. Se o bebê desmaiar ou parar de respirar, inicie manobras de reanimação e chame ajuda imediatamente.
Por que buscar uma consultoria de amamentação?
O trabalho da consultoria de amamentação vai muito além da técnica. Trata-se de um acompanhamento humanizado, que acolhe as angústias maternas e promove a confiança necessária para seguir com a amamentação.
A mulher precisa se sentir segura. A consultoria oferece esse porto seguro. A gente não garante que o bebê nunca vai engasgar, por exemplo, mas garante que a mãe saberá o que fazer se isso acontecer.
Flávia Carolina, enfermeira neonatal

Na consultoria a mulher aprende como amamentar da forma correta, evitando dores e ferimentos
Ela explica que muitos desmames precoces acontecem por fatores que poderiam ser evitados com orientação adequada: dor, uso precoce de bicos artificiais, baixa autoestima materna e exaustão.
“A gente vem de gerações que não amamentaram, e isso é carregado como se fosse uma herança. A consultoria ajuda a quebrar esse ciclo, a atualizar e empoderar a mulher para uma experiência mais leve e possível”, garante.
Preparação desde a gestação e o papel da rede de apoio
A preparação para amamentar começa ainda na gravidez. “Desde a 16ª semana a mulher já produz leite. Mas como não vê, acha que não tem”, explica a consultora. Segundo ela, o ideal é que as mães recebam essas informações ainda no pré-natal, para estarem mais seguras e blindadas diante de conselhos contraditórios no ambiente hospitalar e familiar.
Além da informação, a rede de apoio faz toda a diferença. O parceiro ou parceira, familiares e amigos devem acolher, ajudar nas tarefas, observar os sinais do bebê e cuidar também da mãe. “Se o bebê precisa estar bem, a mãe também precisa. E ela está sendo literalmente sugada. Precisa de descanso, alimentação, hidratação e suporte emocional”.