
Foi a dificuldade para dormir e o desânimo constante que levaram Fernanda*, de 19 anos, a procurar ajuda médica. Após uma breve consulta com um psiquiatra, veio o diagnóstico: depressão. A estudante faz parte dos 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos que convivem com a doença, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O cenário é preocupante. A cada ano, os índices aumentam, especialmente na América Latina, região onde 15% dos adolescentes dessa faixa etária apresentam sintomas depressivos. O continente ainda registra outro dado alarmante: mais de dez jovens tiram a própria vida diariamente. No Brasil, a depressão já aparece como a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.
Avanço dos casos no Brasil
O levantamento mais recente do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, confirma o avanço da doença no país. Entre 2011 e 2022, a taxa de suicídio entre jovens cresceu em média 6% ao ano. No mesmo período, os casos de autolesão na faixa dos 10 aos 24 anos aumentaram 29% ao ano.
Os índices superam os da população em geral, que apresentaram crescimento médio de 3,7% em suicídios e 21% em autolesões. Para a pesquisadora Flávia Jôse Alves, líder do estudo, o movimento é uniforme em todo o território. “As notificações por autolesões aumentaram em todas as regiões, assim como o registro de suicídios, que manteve crescimento médio de 3,7% ao ano”, explicou.
Especialistas indicam que não há uma razão principal para o aumento no número de casos.
Quando os sinais passam despercebidos
Embora os números sejam altos, especialistas acreditam que o quadro real seja ainda maior. O estigma e o desconhecimento sobre a doença fazem muitos jovens evitarem a busca por ajuda profissional.
Fernanda admite que demorou a reconhecer o problema. “Sempre fui alegre, mas aos poucos a vida foi perdendo o brilho. Comecei a me isolar, sem imaginar que pudesse ser depressão”, contou. O ponto de virada veio após a perda de um familiar. “Senti que estava no fundo do poço e percebi que só tinha uma saída: procurar ajuda. Essa decisão salvou a minha vida”, disse.
A psiquiatra Camila Souza reforça que esse é um dos maiores desafios. “Muitos jovens têm medo ou não sabem identificar o que estão sentindo. É fundamental o acompanhamento psicológico, que ajuda a reconhecer os primeiros sinais”, orienta.
Segundo a médica, familiares e amigos também precisam estar atentos. Alterações no sono e no apetite, fadiga, dificuldade de concentração e mudanças bruscas de humor podem ser indicativos de depressão. “Diante desses sinais, a recomendação é buscar avaliação profissional”, alerta.
Onde buscar apoio
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso por meio do telefone 188, disponível 24 horas por dia, além de chat em horários específicos. A instituição conta com voluntários preparados para oferecer apoio emocional e atuar na prevenção do suicídio.
Outros serviços também estão disponíveis, como o Mapa da Saúde Mental, que reúne locais de atendimento voluntário online e presencial em todo o país, e o Poder Falar, canal do Unicef voltado para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O atendimento é anônimo, gratuito e oferece materiais de apoio e orientação sobre saúde mental.
*A reportagem resguardou o nome verdadeiro de Fernanda.