Fernando Haddad 18 de agosto de 2025 | 12:48
Dizer que o Brasil é protecionista é quase brincadeira, afirma Haddad
O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse nesta segunda-feira (18) que o Brasil vem reduzindo suas tarifas efetivas nos últimos 20 a 30 anos e que “é quase brincadeira” dizer que o país é protecionista.
“Não é verdade, o Brasil não está fechado, o Brasil esta procurando parceria a todo instante, com o mundo inteiro”, afirmou. Essa busca, segundo Haddad, aparece não só nas negociações com blocos e grupos, como Brics e os esforços pelo acordo do Mercosul com a União Europeia, mas também em tratativas bilaterais diretas.
Reportagem publicada pela Folha no sábado (16) mostra, com base em livro de economistas do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), que a imposição de barreiras tarifárias desde os anos 1980 teria contido a alta da produtividade, levando a economia à estagnação.
O chefe da equipe econômica disse também que o “país mais liberal do mundo é hoje o mais protecionista do mundo”, em referência ao tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, às negociações com dezenas de países. Para o Brasil, a sobretaxa é de 50% e está sendo aplicada às exportações há duas semanas.
Haddad participou em São Paulo do evento Brasil 2030: Crescimento, Resiliência e Produtividade, organizado pelo jornal Financial Times com a Times Brasil, licenciado da CNBC.
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, sob negociação há 20 anos, deve ser assinado até o fim do ano, “com a superação do último entrave”, segundo o ministro da Fazenda. Negociadores do Brasil têm dito que as conversas para a versão final do tratado de livre comércio estão avançadas.
A França é um dos países que têm se colocado contra o acordo comercial, por entender que o tratado prejudicaria o país. Segundo Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém conversas frequentes com o mandatário francês, Emmanuel Macron, para debelar essas resistências.
O ministro da Fazenda citou as negociações para defender que Lula é um presidente que mantém diálogo com os parceiros comerciais e que isso só não está acontecendo com os Estados Unidos porque Trump não quer.
Sob pressão do tarifaço americano às exportações de produtos brasileiros, Haddad disse que uma interlocução com os Estados Unidos depende da disposição da gestão Trump. “Para ter um canal, precisa ter um orifício aqui e um orifício ali”, afirmou.
Na semana passada, Haddad conversaria com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, para discutir a sobretaxa de 50% imposta ao Brasil. O encontro foi cancelado e, no mesmo dia, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) divulgou uma foto com Bessent, tirada durante um encontro em Washington.
“Nós entendíamos que a extrema-direita poderia se mobilizar nos Estados Unidos para reverter a situação. Mas ficaria demonstrado que a responsabilidade por não ocorrer, não seria do Brasil”, disse Haddad.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é o principal articulador de medidas sancionadoras ao Brasil para pressionar a aprovação de uma anistia pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
Questionado se o cancelamento da reunião e a publicação da imagem teriam sido uma provocação, Haddad disse que não pode cometer deslizes. “Já é uma situação tensa”, afirmou. “Qual é a dificuldade de tirar uma conclusão óbvia nesse caso? Está tudo documentado.”
O governo anunciou um pacote de socorro aos setores afetados pelo tarifaço com uma linha de crédito de até R$ 30 bilhões para ajudar as companhias que foram prejudicadas pelo tarifaço, além do adiamento de impostos federais, maior ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias à exportação para facilitar a busca de novos mercados.
A gestão Lula quer deixar fora do limite de despesas do arcabouço fiscal parte dos gastos extraordinários com o pacote de socorro. A possibilidade de exclusão desses gastos tem sido criticada por economistas e especialistas em contas públicas por fragilizar a regra fiscal com mais exceções;
“Esses são os mesmos especialistas que falaram que ia ficar permanente a ajuda para o Rio Grande do Sul [a ajuda federal ao estado após as enchentes que devastaram cidades inteiras]. Quando você tem um evento extraordinário, você tem que ter medidas extraordinárias. Pode ser uma pandemia, pode ser uma guerra, pode ser uma guerra comercial.”
Haddad defendeu que o pacote foi desenhado e calibrado pela equipe econômica com empresários e que, no momento, não há previsão de as medidas serem ampliadas. Em entrevista ao C-Level, da Folha, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o pacote é suficiente neste momento, mas não descartou a possibilidade de novos aportes em fundos garantidores, fora da meta fiscal.
Apesar de às exceções à regra fiscal, Haddad disse que arcabouço será cumprido conforme previsto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Anualmente, o governo encaminha ao Congresso Nacional, na LDO, a previsão de arrecadação e de despesas e o cumprimento da meta de déficit zero do resultado primário.
Essa meta, hoje, tem um sistema de bandas, por meio do qual o governo pode ter um déficit, sem que a regra seja descumprida. Segundo Haddad, a regra será cumprida. “Fizemos isso ano passado, tenho bastante certeza que faremos neste ano.”
Fernanda Brigatti/Folhapress