União de governadores da direita esfria em meio a incerteza de Bolsonaro

3

Foto: Aluísio Eduardo/Instagram/Arquivo
Reunião de governadores de direita em Brasília; a partir da esq., Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ratinho Jr (PR), Mauro Mendes (MT), Ibaneis Rocha (DF), Wilson Lima (AM), Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ) e Ronaldo Caiado (GO) 07 de outubro de 2025 | 13:18

União de governadores da direita esfria em meio a incerteza de Bolsonaro

Ensaiada dois meses atrás, a iniciativa de governadores de direita em busca de unidade contra a gestão Lula (PT), incluindo a realização de reuniões periódicas, perdeu fôlego diante de rachas no segmento, da desconfiança do clã Bolsonaro e da relutância do ex-presidente em indicar um sucessor para 2026.

Nesse intervalo, Lula recuperou parte de sua popularidade, saiu da defensiva na relação com o Congresso e viu as ruas ocupadas por manifestantes de esquerda contrários à anistia a Jair Bolsonaro (PL) e à PEC da Blindagem, em uma mobilização inédita desde as eleições de 2022.

A tentativa de união na direita ainda esbarrou em disputas internas, como a exposta na recente troca de ataques envolvendo o governador de Goias, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI).

A reunião dos governadores que mirou uma articulação conjunta ocorreu em 7 de agosto, poucos dias após a prisão domiciliar do ex-presidente e antes da condenação dele no STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia envolvia ainda reunir presidentes de partido de centro e direita já na semana seguinte, o que também não aconteceu.

Participantes dessas conversas atribuem o esfriamento à incerteza de Bolsonaro quanto ao futuro político e a outras pautas que tomaram o noticiário, como o projeto que concede anistia aos condenados nos ataques golpistas, inclusive Bolsonaro, a PEC da Blindagem e a ampliação da isenção do IR (Imposto de Renda).

Além disso, apontam que a aproximação de Donald Trump com Lula reduziu a pressão sobre o petista, desanimando parte da oposição, já desconfortável com a associação do tarifaço ao Brasil ao deputado Eduardo Bolsonaro.

As críticas ao STF, presentes no encontro às vésperas do julgamento da trama golpista, também foram perdendo espaço para essas outras pautas.

Dentre os participantes do primeiro encontro, na casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), havia quatro cotados à candidatura presidencial: Caiado, Ratinho Jr (PSD), do Paraná, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais.

À época, o governador de São Paulo ainda era o nome mais forte para herdar o espólio de Bolsonaro, apesar de nunca tenha assumido isso publicamente.

O movimento da direita se repetiu em um jantar da federação União Progressista, em 20 de agosto, com presença também de Zema e Caiado e no qual Tarcísio fez um discurso em defesa do padrinho político e do projeto de lei da anistia. A articulação do jantar fez com que os governistas perdessem o controle da CPI mista do INSS.

Mas, nas semanas seguintes, Tarcísio freou a ofensiva presidencial diante da resistência de filhos de Bolsonaro, enquanto Ratinho Jr. (PSD) ganhou força como um plano B e buscou contato com políticos e empresários paulistas para se viabilizar como alternativa.

Zema, por sua vez, esteve com Tarcísio na última semana em São Paulo e com Caiado há cerca de um mês em Belo Horizonte. O mineiro dá sua candidatura como certa, seja como representante da direita, seja como nome independente.

À Folha Caiado defendeu haver mais de um nome da direita concorrendo à Presidência no ano que vem. Para ele, um candidato sozinho contra Lula será colocado em uma “máquina de triturar” que ninguém aguenta.

Apesar de os pré-candidatos terem evitado criticar uns aos outros, uma das intenções colocadas no encontro há dois meses, as trocas de farpas dentro da direita dificultaram a ideia de unificação.

Caiado atacou Ciro Nogueira após o parlamentar deixá-lo de fora da lista de presidenciáveis apoiados por Bolsonaro. As siglas dos dois formalizaram uma federação em agosto e no mês passado anunciaram juntos o desembarque do governo Lula.

O presidente do PP citou as opções de Tarcísio e Ratinho Jr. em entrevista ao jornal O Globo. Caiado classificou a fala como desrespeitosa e relembrou a ligação dele com o PT no passado.

Zema tentou esfriar os ânimos e disse que, “na política, meus adversários são Lula e o PT”, “é com eles que a direita deve brigar”.

Não houve avanço no afunilamento de candidaturas, e a família de Bolsonaro se tornou um fator de instabilidade.

Carlos e Eduardo Bolsonaro têm criticado a busca por um sucessor do ex-presidente, que já está inelegível e agora condenado a 27 anos e três meses de prisão.

O deputado está morando nos Estados Unidos e foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sob a acusação de articular ações para intervir nos processos do ex-presidente. Mesmo assim, passou a se colocar como uma alternativa à Presidência em 2026.

“Mas tem problema nenhum o Tarcísio ser candidato. Mas por que, se eu sinalizo nesta direção, então eu passo a ser o problema? Por que não me tratam igual ao Ratinho, Caiado e Zema? Deixe o público escolher”, disse a uma seguidora no Instagram, que se dizia bolsonarista e defensora de uma candidatura de Tarcísio. “Agora, querer na maldade da caneta prender, sem justificativa, os Bolsonaros que se dispõem a concorrer para presidente, isso sim deveria causar estranheza”, completou.

Ciro Nogueira conversou no final de agosto com Eduardo por telefone, quando pediu que centrasse a artilharia contra a esquerda.

Ele é um dos principais entusiastas de uma união mais concreta do grupo político e disse, recentemente, que a direita tem falta de bom senso. Acabou se tornando um dos principais alvos do bolsonarismo reticente a candidaturas que não sejam o ex-presidente inelegível.

Marianna Holanda e Bruno Ribeiro, Folhapress



Fonte: Política Livre

Artigos relacionados

Política

Caso Binho Galinha esvazia a Assembleia e sessão cai por falta de quórum

Foto: Política Livre/Arquivo Deputado Samuel Júnior (Republicanos) 07 de outubro de 2025...

Política

Secretários estaduais recebem familiares de Caíque e representantes da comunidade de São Marcos

Foto: Jeferson Silva/Ascom SJDH, Sepromi, Seades, SPM, SSP e Serin ouviram as...

Política

PF investiga se metanol abandonado após operação serviu para falsificar bebidas, diz ministro

Foto: Vinicius Loures /Câmara dos Deputados/Arquivo O ministro da Justiça e Segurança...

Política

Ex-ministro Luiz Dulci, Josias Gomes e Afonso Florence estarão no 2º Seminário Estadual da CNB de Todas as Lutas

Foto: Denis Dias / CMBH/Arquivo Luiz Dulci é ex-ministro da Secretaria-Geral da...