‘Veneno suficiente para causar doenças’: especialista alerta sobre mito do ‘vapor inofensivo’ dos vapes

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Pessoa fumando vape — Foto: Diego Fedele/AAP Image via AP

A crescente popularidade dos cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, tem mascarado uma realidade alarmante: longe de serem inofensivos, esses dispositivos contêm substâncias tóxicas que causam dependência rápida e severos danos à saúde física e mental, especialmente entre os jovens brasileiros.

Cerca de 27 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais fumam cigarro convencional ou vape, o cigarro eletrônico. Após décadas de queda no tabagismo entre adolescentes, a chegada dos eletrônicos reverteu essa tendência de forma preocupante.

A venda de vape é proibida pela Anvisa desde 2009. A legalização em outros países não reduziu riscos: apenas ampliou o mercado, inclusive com forte presença de produtos no mercado ilegal.

No podcast g1 Bem-Estar, o pneumologista Carlos Leonardo Pessôa, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, desmistifica a ideia inicial de que o vape seria “só um vaporzinho” e explica o que realmente há por trás do design moderno e das essências saborizadas que atraem os jovens.

Substâncias tóxicas escondidas no vapor

Um estudo do Laboratório de Química Atmosférica da PUC do Rio analisou modelos descartáveis e recarregáveis e revelou uma mistura perigosa:

  • Nicotina em altas concentrações – até três vezes mais que no cigarro comum, gerando dependência mais rápida e agressiva.
  • Metais pesados como níquel, prata e cromo – que aumentam o risco de câncer.
  • Substâncias antioxidantes – associadas ao desenvolvimento de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica).
  • Glicerina e diacetil – ligados à bronquiolite obliterante, conhecida como “pulmão de pipoca”.
  • Acroleína – irritante com alto potencial nocivo.

“O vape não tem as 9 mil substâncias do cigarro convencional, mas já foram catalogadas pelo menos 80, suficientes para causar as mesmas doenças”, afirmou Pessôa. Ele resume em uma analogia direta: “Não tem muita diferença entre tomar três copos de veneno ou um copo. O resultado será igual”, diz Pessôa.

A porta de entrada para o cigarro

Um dado da Universidade de Michigan é decisivo: adolescentes que usam vape têm 30 vezes mais risco de se tornarem fumantes habituais de cigarro convencional.

O fenômeno repete estratégias antigas da indústria. Nos anos 1950 e 60, vendeu-se a ideia de que o filtro tornava o cigarro menos nocivo. Depois vieram as piteiras. Nos anos 70, os “cigarros light”. Hoje, o discurso é o mesmo: o vape seria uma alternativa “segura”. Mas o resultado é sempre dependência.

“É o mesmo filme. Só muda a geração de jovens vulneráveis”, alerta o pneumologista.

Impactos na saúde mental

O problema não se limita aos pulmões. Pesquisas já demonstram relação direta entre o uso de vapes e ansiedade e depressão, condições que já afetam fortemente a juventude atual.

Segundo Pessôa, 70% dos tabagistas em tratamento no programa da Universidade Federal Fluminense apresentam algum transtorno psíquico associado.

“A nicotina parece calmante, mas é mais ansiogênica do que ansiolítica. O cérebro se acostuma à dopamina artificial e para de produzi-la naturalmente. Quando o jovem tenta parar, entra em abstinência e o ciclo de dependência se retroalimenta”, afirma.

Vape — Foto: Reprodução/Freepik

Vape — Foto: Reprodução/Freepik

O apelo aos jovens: design, sabores e influência social

Entre os motivos da popularidade dos vapes estão:

  • Design moderno – semelhante a um pendrive, discreto e associado à ideia de tecnologia.
  • Sabores artificiais – tutti-frutti, maçã verde, entre outros, que mascaram o gosto amargo da nicotina.
  • Influência social – muitos relatam que foram apresentados por amigos, repetindo o padrão de iniciação do cigarro tradicional.

Caminhos para parar

O pneumologista reforça que o primeiro passo é reconhecer a dependência. O tratamento envolve três frentes:

  1. Química – com adesivos, gomas e pastilhas de nicotina, vendidos em farmácias e disponíveis no SUS, gratuitamente.
  2. Comportamental – terapia cognitivo-comportamental para dissociar gatilhos (como café e álcool) do hábito de fumar e estimular atividade física como fonte de prazer.
  3. Psicológica – apoio para lidar com abstinência e reforço da motivação.

A porta de entrada é o posto de saúde mais próximo ou, no setor privado, um pneumologista.

Informação e prevenção

Para conter o avanço, o médico defende campanhas em massa, tanto na TV aberta quanto nas redes sociais, combinando anúncios impactantes que mostram as consequências graves do uso e conteúdos claros e educativos.

Ele também sugere engajar “influenciadores do bem” que possam repercutir a mensagem para milhões de jovens.

Uma escolha que pode mudar destinos

O recado final é direto: não existe forma segura de consumir nicotina. Quem ainda não começou deve evitar o primeiro contato. Quem já usa deve interromper o quanto antes, com apoio médico se necessário.

“Hoje sabemos que há tratamento e recursos para ajudar quem quer parar. Nunca é tarde para interromper o uso”, conclui Pessôa.

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